20 de fevereiro de 2008

8 de fevereiro de 2008

Brincando de cineasta

Aconteceu antes de anteontem (!). Daria o enredo de um bom filme cult. Cult trash, ainda por cima. Foi mais ou menos assim:

Explosão.
Um estrondo entre uma estação e outra do metropolitano anunciava o nhenhenhê que estava por vir. Após trinta segundos, o metrô volta a funcionar e eu desço na estação seguinte para tomar o ônibus de sempre. Corro enquanto vejo que o ônibus havia saído do terminal. Felizmente, não fui só eu que fiz o motorista parar.

Acabei ficando irada com ele: enquanto todos nós subíamos, o maldito estava a acelerar, dificultando a subida que virou empurra-empurra, e ainda por cima, ele fechou a porta deixando o braço de um senhor para fora.
Uma mulher vestida de branco, tão indignada como todos nós, mas com muita mais voz que qualquer um, começou a adverti-lo e a dizer que denunciá-lo-ia à empresa. A abordagem dela foi grosseira, e ambos perderam a razão ao erguerem o tom de voz e trocarem xingamentos bem baixos. Quando finalmente a catraca foi liberada para sua passagem, a mulher - enquanto passava - resmungou:
- Ah, tinha que ser nordestino, mesmo!


Ela cortou o fio vermelho ao invés do fio verde da bomba, foi como jogar uma bomba atômica no túmulo do Ghandi, como lavar blusa preta com água sanitária.

(Para quem não sabe, Guarulhos é um ímã de nordestinos)

Então um passageiro nordestino que estava já sentado começou a discutir com a mulher. Depois, além de levarem pelo lado pessoal, o senhor que ficou com o braço para fora interveio, dizendo que o motorista estava fazendo um favor, e que não havia motivos para reclamar. Outro homem alegou que quando um favor é feito, ele deve ser bem feito como qualquer outra tarefa. Então todo o ônibus ficou borbulhando, com todos eles brigando e interagindo, defendendo pontos de vista, discutindo, tensos, e eu ali, observando.

Imaginei o roteiro de um filme, todos eles presos no trânsito da Marginal Tietê, numa noite quente, e discutindo bravamente, até que, por fim, a barraqueira desceria e restariam no ônibus somente o motorista e o protagonista-neutro. Não sei qual tema a discussão principal abordaria, e nem sei qual seria o fim ou a lição de moral.

A única coisa que sei, é que quando eu estava para descer, quase gritei "E vocês tinham que ser uns merdas de uns GUARULHENSES para arranjar uma discussão tão ridícula como essa". Mas achei melhor ficar na minha e descer sossegada.

-*-

No fim, acho que tudo isso foi fruto de botarem os brasileiros para trabalhar numa sagrada terça-feira de Carnaval. Tsc, tsc...